A BANCADA DO HOBISTA/ESTUDANTE DE ELETRÔNICA/MECATRÔNICA



Quantas vezes não me foi perguntado: “Quais são os equipamentos que devo adquirir para praticar eletrônica/mecatrônica???”. Esta pergunta parece muitas vezes difícil de se responder. Os elementos podem ser muitos e bastante variados. Pretendo descrever neste pequeno artigo os apenas elementos básicos, porém não todos obrigatórios, e que estarão sempre presentes na bancada do hobista/estudante. A aquisição deste ou aquele “elemento” deve ser feita de forma consciente e de acordo com suas posses e principalmente, suas necessidades.



A BANCADA

Entende-se por "bancada de eletrônica" o espaço físico ocupado por ferramentas, equipamentos e componentes durante a realização de um projeto/trabalho. Muitos têm espaço em suas casas para a instalação de uma bancada, porém outros não têm. Neste caso uma simples "escrivaninha" no quarto pode ser uma boa solução e caso esta seja também inviável, o uso da mesa da cozinha será inevitável. Para esta última alternativa, a dica é proteger bem a mesa com borracha ou mesmo lona plática, facilmente obtida em casas especializadas em forrações. Evita-se assim atritos com a “dona da pensão”.

Uma dica também importante é iluminar bem a bancada. Para isso pode-se melhorar a iluminação ambiente (abra a janela e cortinas) ou pensar em uma boa luminária extra.



FERRAMENTAS BÁSICAS

As ferramentas básicas são comuns e a grande maioria já está presente na maioria das casas. São elas:

  • Chaves de fenda

  • Chaves “Philips”

  • Chaves de relojoeiro

  • Chaves de boca

  • Alicates de bico

  • Alicates de corte

  • Limas com variados formatos

  • Estiletes para corte

  • Ferro de solda

  • Etc

Existem muitas outras, mas a aquisição destas dependerá do fator “uso”.



OUTRAS FERRAMENTAS

Existem muitas outras ferramentas que poderão ser consideradas por uns como "intermediárias" e por outros "avançadas". Tudo é uma questão de "ponto de vista". Do meu ponto de vista, considero estas "avançadas" e são elas:

  • Tornos

  • Fresas

  • Furadeiras

  • Serras elétricas

  • Etc

O custo destas ferramentas é sempre alto, e sua presença na bancada depende mesmo do fator "grana no bolso" de cada um. Porém, dentre estas, a ferramenta que eu recomendaria seria uma mini furadeira. Devido a um número grande de acessórios esta ferramenta substituí facilmente as consideradas avançadas e pode ser um verdadeiro "macaco gordo" na sua bancada. Sem ela alguns dos trabalhos que eu fiz teriam se tornado um verdadeiro “martírio” .

Só para você ter uma idéia do que ela pode fazer, ai vão algumas possibilidades: 

  • Furar

  • Fresar

  • Cortar

  • Lixar

  • Polir

  • Desbastar

  • Etc

Porém fique atento ok. O custo desta "pequena maravilha" geralmente não é baixo para a maioria dos bolsos. Estude sua necessidade e reveja seu orçamento. Eu considero este tipo de ferramenta como "opcional", apesar de suas vantagens.



EQUIPAMENTOS DE APOIO NA BANCADA

Os equipamentos que devem estar presentes na bancada do hobista são:

  • Multímetro – Digital ou analógico. Tanto faz. Sem ele não se pode medir tensões, correntes, resistências, condutividade, etc. No mercado é possível encontrar multímetros com preços que variam de R$20,00 a R$1.000,00. Um multímetro digital simples de "20 paus", por exemplo, é um bom começo. 

  • Fonte de alimentação - Preferencialmente variável, com tensões de 1.5V, 3V, 4.5V, 6V, 9V, 12V e uma corrente de no mínimo 1 Ampére. Esta fonte pode ser montada pelo próprio hobista a um custo bem acessível.

  • Pront-o-board – Muito recomendável por ajudar nos testes e a poupar "componentes", já que permite realizar todo e qualquer teste sem o uso de solda. Existem vários modelos e tamanhos. Para iniciantes um pequeno com 550 pontos de contato é perfeito. Se você puder gastar um pouco mais, um com o dobro de contatos é "maravilha", com o triplo "fantástico" e com quatro vezes isso, "hiper super legal".

  • Microcomputador – Este equipamento ajudará em todas as funções em que você precisar de “processamento”, como a programação de microcontroladores, teste de circuitos em simuladores, desenho eletrônico, etc. Este microcomputador não precisa ser “Top de linha”. Muitos microcomputadores de gerações anteriores hoje são comercializados a um custo muito acessível e servem perfeitamente para os propósitos sugeridos. Lembre-se que está máquina vai ser utilizada em muitos dos seus testes. Já pensou em ver seu "ultra super power multi core" de última geração soltar aquela "fumacinha" característica que avisa que algo "queimou"?! Um velhinho e mais em conta é melhor e dá conta do recado! Neste caso até mesmo um antigo Pentium 100 poderá atender as necessidades de um hobista principalmente se o S.O. for Linux ou algum Windows mais antigo como o 98 (ambos necessitam de pouca memória para rodar). Uma outra utilidade para este equipamento está na construção de uma base de dados para ajudar a organizar seus componentes, projetos, coleções, etc. Ah, e um micro considerado "velhinho" pode receber um "up" no seu visual. Basta um pouco de criatividade, tinta "spray", adesivos, etc. Veja abaixo meu PIII 750MHz com dual boot (Linux e Win Me). "Pau para toda obra"!!!


Obs.: Não citei aqui equipamentos como osciloscópio, geradores de função, frequencímetros, analisadores lógicos e outros por serem equipamentos mais avançados. Com o passar do tempo cada um saberá exatamente quando um determinado equipamento é indispensável e irá providenciar sua aquisição.



COMPONENTES ELETRÔNICOS

Os componentes eletrônicos mais comuns, e presentes na maioria dos projetos, são:

  • Resistores (valores variados)

  • Led’s (com cores e formatos diferentes)

  • Diodos (retificadores, de sinal, zeners, etc)

  • CI’s discretos diversos (AMP OP's, 555, TTL, CMOS, etc)

  • Chaves (push-buttons, on/off, etc)

  • Etc

Os componentes devem ser obtidos de acordo com o projeto a ser realizado, e na grande maioria poderão reaproveitados em muitos outros projetos, caso a montagem não se torne "realidade". Isso garante que os custos dos mesmos fiquem sempre numa faixa “admissível”.

Os componentes podem ser adquiridos em lojas especializadas ou “extraídos” de placas e equipamentos fora de uso. Esta prática, conhecida como pull, é muito difundida entre os hobistas que gostam de visitar “sucatões”. É inacreditável o que se pode encontrar nestes locais e o preço é sempre atraente. Procure, na medida do possível, fazer visitas regulares a estes locais. Você irá se surpreender com o material que pode ser “garimpado”.



Microcontroladores

Alguns projetos necessitam de um “cérebro”, e nestes casos geralmente adota-se para estes um microcontrolador. O mercado tem muitas opções. Sua aquisição também deve ser feita de acordo com a necessidade e uso.

Atualmente ss microcontroladores atuais podem ser utilizados em muitos projetos diferentes, pois podem ser programados quantas vezes forem necessárias (na verdade há um limite, mas este é sempre grande o bastante para se realizar um número bem grande de testes e experiências). 

Os microcontroladores Embedded como os Basic Step's e Basic Stamp’s (além de outros da mesma categoria) são uma excelente opção. Sua facilidade de programação, a não dependência de um gravador (muitas vezes caro) e seu custo fizeram destes microcontroladores a base de muitos projetos de muitos hobistas espalhados pelo Brasil e no mundo inteiro também.

Uma outra boa opção bem barata, é utilizar o próprio computador da bancada nos projetos que necessitem de um "cérebro". Esta solução adapta-se bem somente a alguns projetos. Para outros, é necessário o uso de um microcontrolador ou “circuito dedicado”.




OUTROS COMPONENTES E DIVERSOS

  • Servos - Os servos para aeromodelos e/ou posicionamento de antenas parabólicas possibilitam uma gama muito grande de soluções em muitos projetos. Se você precisa de uma “alavanca”, o servo pode ser o componente indicado. No mercado existem vários tipos e modelos de fabricantes diferentes. Tamanhos e torque (força) também são diferentes de modelo para modelo. A escolha deve ser feita de acordo com o projeto que você irá realizar. Procure em casas especializadas em modelismo ou venda de antenas parabólicas. O custo do primeiro tipo citado não é baixo e aqui se aconselha também o bom senso na aquisição dos mesmos. 
  • Motores - Os motores estarão presentes em 90% dos projetos na área de robótica educacional/mecatrônica. Eles permitem realizar os “movimentos” de suas criações. Os tamanhos e tipos são muitos. “Colecione-os”. Nos “sucatões” encontra-se uma variedade muito grande destes e a preços muito convidativos.
  • Caixas de redução - As caixas de redução aumentam a “força” dos motores. Muitos brinquedos antigos e fora de uso podem “fornecer” estas reduções (engrenagens). No mercado também é possível encontrar muitas soluções prontas a preços razoáveis.
  • Diversos - Os materiais diversos são todos aqueles em que o uso é feito de maneira não metódica. Estes também são considerados os "quebra-galhos". Os “diversos” são obtidos a partir de sucatas, lojas especializadas, “doações de amigos”, etc, e são eles:
    • Caixas plásticas

    • Fios

    • Rodas

    • Peças de Lego (qualquer um serve!)

    • Arames

    • Madeira

    • Parafusos

    • Colas

    • Fitas adesivas

    • Etc


INFORMAÇÃO

Este “item” deve ser considerado também. A eletrônica/mecatrônica está em constante evolução e acompanhar o desenvolvimento destas se faz necessário. Isto pode ser feito através de livros, revistas, Internet e até mesmo através de cursos de especialização. As revistas Mecatrônica Fácil e Mecatrônica Atual, Saber Eletrônica, Eletrônica Total, Elektor Brasil e Antenna Eletrônica Popular são uma excelente fonte de consulta, pois além de projetos trazem muita informação sobre a área, assim como as "últimas novidades" do mundo eletrônico/mecatrônico.

       

As revistas mais antigas como as memoráveis Divirta-se com a EletrônicaBê-a-Bá da EletrônicaInformática Eletrônica DigitalExperiências e Brincadeiras com a Eletrônica e Eléctron Rádio TV Eletrônica GeralNova Eletrônica da década de 1980 e APE - Aprendendo e Praticando Eletrônica e ABC da Eletrônica da década de 1990, também são uma ótima fonte de consulta e inspiração. Hoje alguns exempleres ainda podem ser encontrados em sebos e até em algumas lojas de componentes eletrônicos a um custo é bastante atrativo. E não pense que por ser antigas são completamente desatualizadas. Há muita coisa nestas revistas que é ainda atual, principalmente os conceitos sobre eletrônica no geral. Além disso, tais revistas fazem parte da história da eletrônica em nosso país. Para muitos, só o presente interessa. 

 

 



CONCLUSÃO

Tudo o que descrevi não é a “verdade absoluta” sobre bancadas, ferramentas, equipamentos, componentes, etc. Espero apenas ajudar o iniciante, dando algumas dicas e sugestões. Você montará sua “bancada” de acordo com suas necessidades e determinará também se deve ou não adquirir um material e qual o seu melhor momento. Seja como for, se você puder, monte sua bancada e mãos a obra! 




Este artigo foi publicado, com minha autorização, na revista Mecatrônica Fácil nrº 09 de Março/Abril de 2003.




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